quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Carícias

Chega de viver entre o medo e a raiva! Sa não aprendemos a viver de outro modo, poderemos acabar com nossa espécie. É preciso começar a trocar carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro todas as coisas oas que agente tem vontade de fazer e não faz, porque " não fica bem" mostrar bons sentimentos! No nosso mundo negociante e competitivo, mostrar amor é... uma mau negócio. O outro vai aproveitar, explorar, cobrar...
Chega de negociar com sentimentos e sensações. Negócios é bom para coisas - e pronto! Bendito Skinner! Apesar de tudo, ele mostrou por A mais B que só são estáveis os condicionamentos recompensados; aqueles baseados na dor precisam ser reforçados sempre - senão desaparecem. Vamos nos reforçar positivamente. É o jeito - o único jeito - de recomeçar um novo tipo de convívio social, uma nova estrutura, um mundo melhor.
Freud ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim; mas é fácil ver que nós escondemos também tudo o que é bom em nós, a ternura, o encantamento, o agrado em ver, em acariciar, em cooperar, a gentileza, a alegria, o romantismo, a poesia, sobretudo o brincar com o outro. Tudo tem de ser sério, respeitável, comedido - fúnebre, chato, restritivo, contido...
Há mais pontos sensíveis em nosso corpo do que estrelas num céu invernal.
"Desejo", do latim de-sid-erio, provém da raiz "sid", da língua zenda, significando estrela, como se vê em sideral - relativo às estrelas.
Seguir o desejo é seguir a estrela - estar orientado, saber para onde vai, conhecer a direção...
"Gente é pra brilhar", diz o mestre Caeteno. Gente é, com certeza, a maior maravilha, o maior playground e a mais complexa máquina neuromecânica do Universo conhecido.
Dizem os psicanalistas que todos nós sofremos de mania de grandeza, de onipotência. A mim parece que sofremos de mania de pequenez. Qual o homem que se assume em toda sua grandeza natural? Em vez de admirar, nós invejamos - por não termos coragem de fazer o que nossa estrela determina.
O Medo - eis o inimigo.
O medo principalmente do outro, que observa atentamente tudo o que fazemso - sempre pronto a criticar, a condenar, a por restrições - porque fazemos diferente dele.
Só por isso. Nossa diferença diz para ele que sua mesmice não é necessária. Que ele também pode tentar ser livre - seguindo sua estrela. Que sua prisão não tem paredes de pedra, nem corrente de ferro. Como a de Branca de Neve, sua prisão é de Cristal - invisível. Só existe na sua cabeça. Mas sua cabeça contém - é preciso que se diga - todos os outros que, de dentro dele, o observam, criticam, comentam - às vezes até elogiam!
Por que vivemos fazendo isso uns com os outros, vigiando-nos e obrigando-nos - todos contra todos - a ficar bonzinhos dentro das regrinhas do bem-comportado- pequenos, pequenos? Sofremos de megalomania porque no palco social obrigamo-nos a ser, todos, anões.
Ai de quem se sobressai, fazendo de repente o que lhe deu na cabeça. Fogueira para ele! Ou você pensa que a fogueira só existiu na Idade Média?
Nós nos obrigamos a ser - todos- pequenos, insignificantes, imperceptíveis, "normais" - normopatas diz melhor; oligopatas - apesar do grego- melhor ainda. Olgotímicos - sentimentos pequenos- é o ideal...
Quem é iluminado? No esu tempo, é sempre um louco delirante que faz tudo diferente de todos. Ele sofre, principalmente, de um alto senso de dignidade humana - o que o torna insuportáve para todos os outros, que são indignos.
ele sofre, depois, de uma completa cegueira em relação à "realidade" (convencional), que ele não respeita nem um pouco. Ama desbragadamente - o sem-vergonha. Comporta-se como se as pessoas merecessem confiança, como se todos fossem bons, como se toda criatura fosse amável, linda, admirável.
Assim, ela vai deixando um rastro de luz por onde quer que passe. Porque se encanta, porque se apaixona, porque abraça com calor e com amor. porque sorri e é feliz.
Como pode, esse louco?
Como pode estar - e viver! - sempre tão fora da realidade - que é sombria,ameaçadora; como ignorar que os outros - sempre os outros - são desconfiados, desonestos, mesquinhos, exploradores, prepotentes, fingidos, traiçoeiros, hipócritas...
Ah! Os outros...
(Fossem todos como eu, tão bem-comprotados, tão educados, tão finos de sentimentos...) O que não se compreende.
Menos ainda se compreendeque tantas famílias perfeitas - a família de cada um é sempre ótima - acabem criando um mundo tão infernalmente péssimo.
Ah! Os outros... Se eles não fossem tão maus, como seria bom...
Proponho alguns temas para meditação profunda:
Só sabemos fazer o que foi feito conosco.
Só conseguimos tratar bem os demais se fomos bem tratados.
Só sabemos nos tratar bem bem se fomos bem tratados
Se só fomos ignorados, só sabemos ignorar.
Se fomos odiados, só sabemos odiar.
Se fomos maltratados, só sabemos maltratar.
Não há como fugir desta engrenagem de aço: ninguém é feliz sozinho.
Ou o mundo melhora para todos, ou ele acaba.
Amar o próximo não é mais idealismo "místico" de alguns.
Ou aprendemos a nos acariciar, ou liquidaremos nossa espécie.
Carícias - a própria palavra é bonita.
Carícias... Mãos deslizando lentas e leves sobre a superfície macia e sensível da pele.
Carícias... Olhar de encantamento descobrindo a divindade do outro - meu espelho!
Carícias... Envolvência ( quem não se envolve não se desenvolve...), ondulações, admiração, flicidade, alegria em nós - eu-e-ele, eu-e-outros.
Energia poderosa na ação comum, na co-peração.
Na co-munhão.
Na co-moção.
Só a União faz a Força - sinto muito, mas as verdades banais de todos os tempos são verdadeiras - e seria bom se a gente tentasse fazer o que elas sugerem, em vez de críticos e céticos e pessimistas, encolhermos os ombros e deixarmos que a espécie continue, cega, caminhando em velocidade uniformemente acelerada para o Buraco Negro da aniquilação.
Nunca se pode dizer, como hoje: ou nos salvamos - todos juntos - ou nos danamos - todos juntos.



Retirado do livro: A carícia Essencial Uma Psicologia do Afeto, Shinyshiko, Roberto, pag.15. Editora Gente, 2005

2 comentários:

  1. Todo psicólogo é fascinado pelo ser humano?
    O maior psicólogo da história - Jesus - era apaixonado pelo ser humano.
    Você é? Parece ser. Se não for, deve ser ao menos uma aprendiz muito aplicada.
    Eu gostaria muito. Não sou cem por cento, sempre tem certos "seres humanos" que não admitimos chamá-los de 'seres humanos'. Um dia a gente aprende.

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  2. A respeito de ser hoje o que fizeram conosco ontem - "Só sabemos fazer o que foi feito conosco.
    Só conseguimos tratar bem os demais se fomos bem tratados.
    Só sabemos nos tratar bem bem se fomos bem tratados
    Se só fomos ignorados, só sabemos ignorar.
    Se fomos odiados, só sabemos odiar.
    Se fomos maltratados, só sabemos maltratar." - concordo, isso é verdade. Mas será que é desculpa? Será que tudo o que fazemos é sempre culpa de alguém?
    Não acho que alguém que não sabe amar pode culpar os pais por não o terem ensinado. Será que o simples fato de conhecer apenas o lado ruim não é suficiente para querermos procurar um outro lado diferente, que seja bom?

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